Pessoalmente tenho consideração e estima pelo Dr. Paulo Matos, que julgo serem recíprocas, e não me move o desejo de sustentação de querela de qualquer ordem.
São reconhecidos pela d'Orfeu a simpatia e o respeito que o Dr. Paulo Matos nutre por esta Associação Cultural, sentimentos expressamente manifestados não só na frequência com que assiste aos nossos espectáculos e nas análises daí decorrentes, como também nos elogios tecidos no último artigo. A d'Orfeu e a Política Cultural da Câmara, publicado no Jornal Soberania do Povo, a 6 de Setembro de 2002. Com efeito, na opinião do coordenador do grupo municipal do PSD na Assembleia Municipal, desenvolvemos multifacetadas actividades, representamos alguma lufada de ar fresco no panorama cultural de Águeda, temos uma lógica de funcionamento quase empresarial, constituímos uma vanguarda cultural, perseguimos nobres objectivos, elaboramos uma política cultural integrada, na base de um plano anual podendo servir de exemplo à própria autarquia e, justiça nos seja feita, fornecemos anualmente à autarquia o nosso plano de projectos e actividades, razões sobejas para justificar o crédito que nos atribui.
Agradeço, em nome da d'Orfeu.
Por outro lado, julgo que não são adequados os epítetos de arrogância e de alguma soberba intelectual, por considerar que não se ajustam à nossa postura.
A nossa Associação tem-se pautado por atitudes de verticalidade, independência, crítica construtiva, abertura e cooperação, a nível nacional e internacional.
Somos uma instituição de utilidade pública, recebemos dinheiros públicos, temos apoios mecenáticos, e, consequentemente pautamo-nos por critérios de exigência e rigor em todo o nosso trabalho, quer no funcionamento da nossa contabilidade, quer nas nossas iniciativas que, não sendo certamente do agrado de todos, são múltipla e de reconhecida qualidade. Águeda é rica em empreendimentos e associações culturais e tem igualmente público para todas essas realizações. Nós também constatamos a progressiva adesão do público local e regional - às nossas iniciativas.
São conhecidas as várias parcerias com outras instituições e é do domínio público a disponibilidade com que temos acedido às solicitações de várias entidades, nas quais se inclui a própria autarquia. Prestamos o nosso serviço público. O trabalho artístico que temos apresentado é a maior parte das vezes gratuito. As instituições, com quem temos tido a honra de colaborar, sabem disso. Mas infelizmente a cultura não se paga na totalidade por si própria, as nossas despesas são bastante consideráveis e a estrutura humana fixa sobrevive desta actividade. A nossa capacidade de auto-financiamento é relevante, mas insuficiente. E qual é a instituição cultural de serviço público que vive sem apoios? É evidente que não poderíamos ter a mesma gratuitidade em relação a espectáculos de artistas de renome nacional e internacional, que temos trazido aos palcos de Águeda. É do conhecimento geral que a mentalidade e a cultura de um povo não evoluem, se persistirmos sempre nos mesmos modelos. É preciso conhecer outras realidades para, a partir da nossa, construirmos outras, inovando sempre.
Nos últimos anos, a d'Orfeu tem proporcionado a jovens de Águeda o conhecimento de outras realidades culturais por toda a Europa. Águeda tem sido o ponto de encontro de jovens de várias nacionalidades, através duma política de intercâmbios, apoiada pela União Europeia e por entidades locais. Tais factos constam dos nossos planos de actividades que, como se constata, têm sido entregues à autarquia.
É por demais óbvio que a nossa política cultural integrada só pode concretizar-se com base nos apoios substanciais que recebemos do Estado Central (Ministério da Cultura), da Comissão Europeia, do IPJ e do mecenato, tendo sido os respectivos montantes divulgados junto da autarquia. Refira-se que já manifestámos toda a disponibilidade e abertura no acesso à nossa contabilidade e outros dossiers. Não repetimos aqui os números, não porque eles sejam falaciosos, mas porque, concordando com o articulista, poderiam tomar a leitura menos interessante.
Não negamos que a Câmara Municipal de Águeda nos tem apoiado. Pretendemos sim, que reconheça efectivamente o dinamismo da Associação, a qualidade da sua intervenção, o papel que desempenha no panorama cultural da cidade e nos apoie na concretização dos nossos objectivos. É muito importante para nós essa credibilidade. Conhecemos a capacidade e a sensibilidade cultural da vereadora da cultura e dos departamentos técnicos, imaginamos as dificuldades na gestão da política cultural, continuamos a disponibilizarmo-nos para uma colaboração aberta, mas não podemos deixar de usar a palavra para reivindicarmos o que entendemos ser justo.
É referido no texto um certo aproveitamento político desta controvérsia. Afirmo e certamente não se porá em dúvida a minha palavra que, a haver qualquer politização da polémica, somos completamente alheios a esse facto. Convidámos todos os grupos parlamentares a visitarem as nossas instalações. Todos reconheceram as condições difíceis em que trabalhamos, o estado crítico das instalações e o capital humano de trabalho e dedicação dos funcionários e de toda a equipa d'Orfeu. Expusemo-nos. Águeda precisa de nós, como de todas as outras instituições culturais. Somos uma Associação apartidária, constituída por pessoas que, naturalmente, se enquadram em várias opções partidárias. Não defendemos qualquer opção político-partidária. Colaboramos com todos. E esperamos a colaboração de todos.
Concordo com a grande maioria dos princípios expostos no referido artigo. Tem na verdade a autarquia toda a legitimidade de definir uma política cultural municipal integrada para o concelho que, de acordo com o Programa de apoio a actividades culturais, lúdicas e desportivas, deverá reflectir um pluralismo cultural que o estabelecimento de parcerias com as múltiplas instituições existentes no concelho contribuirá com certeza para consolidar, devendo todos os agentes culturais fornecer igualmente à autarquia o seu plano anual de projectos e actividades, com vista à concepção e definição de critérios de elegibilidade e de selecção de iniciativas a apoiar. Penso que todos os agentes culturais têm conhecimento da obrigatoriedade deste procedimento. A autarquia tem, não apenas o direito mas, na minha opinião, tem mesmo o dever de acompanhar e avaliar a execução do programa, com vista a uma política de transparência.
E finalmente quero aplaudir a ideia final do texto. Águeda merece e precisa urgentemente de um centro de artes moderno e polivalente, desses que já vão aparecendo não só no litoral como no interior do país.


Odete Ferreira