Fausto Ferreira
9 Outubro
9 Outubro
Numa altura de tantos incêndios prejudiciais, dá pena ver um FOGO tão bom extinguir-se. A última noite do Festival foi talvez a mais surpreendente, com propostas muito diferentes entre si. Para começar, a performance-instalação dos Artelier no espaço exterior da Antiga Junta dos Vinhos a aproveitar bem o zeitgeist do festival. As cubas que antigamente continham vinho estavam agora bem decoradas alusivamente a temas como sopas de cavalo cansado, bolacha Maria, cuba livre (que estava vazia), pisa da uva, violência doméstica e P… e vinho verde.
A própria performance esteve enquadrada com o local e com o festival. Por um lado, vários trechos de vídeo projectados relacionavam-se com o vinho quer seja já no copo (com imagens de um restaurante vizinho) quer seja na fase de ser pisado. Por outro, numa das cenas mais intensa e visceral, uma das actrizes tomou banho de vinho com o vinho a descer por tubos que partiam da entrada da cuba no prenúncio de uma reflexão sobre certos degredos que estão presentes na sociedade actual. A relação com o festival era óbvia nos vídeos que incluíam algumas personagens bem conhecidas do festival e de Águeda. Outra imagem de marca de Águeda que esteve presente foi uma mota Famel, desta vez não na sua versão projectada, mas sim real. Já em vídeo, o público pôde apreciar um vídeo engraçado sobre tractores, uma máquina usada na vindima muitas vezes, acompanhado de um texto que romantizava tanto os tractores ao ponto de os tornar bonitos. Talvez pelo frio do ar livre, talvez pelo facto deste espectáculo não ser propriamente ortodoxo, talvez pela curiosidade e ansiedade em ver uma estreia da casa, algum público deslocou-se para o interior do edifício, esperando impaciente o início do segundo espectáculo da noite.
Mal-empregados era o título deste espectáculo made in d’Orfeu com Ricardo Falcão e Luís Fernandes, o coordenador do festival, em palco. Os dois entraram muito sérios e bem caracterizados de fato preto e t-shirts com cores vistosas (amarelo e verde) a combinar impecavelmente com as sapatilhas. A primeira surpresa desta actuação foi o Hino da Alegria tocado num instrumento desconhecido da maior parte do público: o stylophone. É como se fosse um telemóvel ou um tablet touchpad mas a sensibilidade ao toque do ecrã não serve para ligar a alguém ou escrever algo mas sim para produzir notas musicais. Com um pequeno pormenor (ou pormaior): o som produzido tem distorção e faz rir. E muito. O stylophone foi usado mais vezes ao longo do espectáculo para tocar a “Abelha Maia” ou “Besame mucho” numa das cenas mais divertidas da noite com Ricardo Falcão a dançar com uma escova de lavar o chão beijando-a intensamente.
Antes, houve tempo para ouvir as respostas de uma criança à pergunta o que queres ser quando fores grande? serem transformadas em desejos. Desde a voz de piloto de avião à voz dos carinhos de choque passando pela do GPS, das informações de trânsito, do Multibanco, da estação de comboios ou do hipervisor de supermercados, tudo respostas que a criança deu, foram imitadas pelos dois actores com enorme mestria soltando grandes gargalhadas no público que reconhecia naquelas vozes situações muito familiares. Outra das cenas mais divertidas deu-se quando de uma versão alterada do “Jardim da Celeste” passou-se para uma música que poderia passar numa qualquer danceteria. Com um bom beatbox gravado no momento, luzes adequadas e danças a rigor no meio do público foi fácil animar os presentes. Que mais tarde cantaram também em conjunto divididos em dois grupos porém: os que cantavam com eu e com.. migo segundo o Luís. Mas o melhor estava reservado para o final. Depois de terem gravado uma melodia bonita que serviu de base, começaram a cantar em cânone José Cid e Carlos Paião. Se já estas duas músicas resultavam bem com a melodia acabada de gravar, a terceira assentou que nem uma luva. O que vale a pena realçar é que poucos artistas conseguem fazer uma versão melhor que o original. Aconteceu por exemplo com a versão do Jeff Buckley de “Hallelujah” (original Leonard Cohen). Ou com a versão de Maria João e Mário Laginha de “Corazón Partío” (de Alejandro Sanz). E aconteceu ontem à noite com a versão dos Mal-empregados do “Papel Principal” de Adelaide Ferreira. Sim, acabaram com Adelaide Ferreira. E não foi só cómico, foi também bonito. Tal como quando deixaram a última canção em loop e dançaram um com a escova e outro com o balde de lavar o chão até juntarem a escova e o balde que dizia "Mal-empregados". Não sei a que se referiam, mas certamente os euros do bilhete não o foram.
Para acabar o Festival e dentro do programa do Outonalidades, um circuito de música ao vivo por bares de todo o país (e Galiza), os Quempallou animaram a sala. Com um conjunto de instrumentos que incluía o acordeão, gaita de foles, tamboril, pandeireta, bombo, requinta, este grupo galego fazia lembrar os sons do seu vizinho Minho. Para quem vinha extinguir o FOGO (só o deste ano), chegaram cheios de energia.
A própria performance esteve enquadrada com o local e com o festival. Por um lado, vários trechos de vídeo projectados relacionavam-se com o vinho quer seja já no copo (com imagens de um restaurante vizinho) quer seja na fase de ser pisado. Por outro, numa das cenas mais intensa e visceral, uma das actrizes tomou banho de vinho com o vinho a descer por tubos que partiam da entrada da cuba no prenúncio de uma reflexão sobre certos degredos que estão presentes na sociedade actual. A relação com o festival era óbvia nos vídeos que incluíam algumas personagens bem conhecidas do festival e de Águeda. Outra imagem de marca de Águeda que esteve presente foi uma mota Famel, desta vez não na sua versão projectada, mas sim real. Já em vídeo, o público pôde apreciar um vídeo engraçado sobre tractores, uma máquina usada na vindima muitas vezes, acompanhado de um texto que romantizava tanto os tractores ao ponto de os tornar bonitos. Talvez pelo frio do ar livre, talvez pelo facto deste espectáculo não ser propriamente ortodoxo, talvez pela curiosidade e ansiedade em ver uma estreia da casa, algum público deslocou-se para o interior do edifício, esperando impaciente o início do segundo espectáculo da noite.
Mal-empregados era o título deste espectáculo made in d’Orfeu com Ricardo Falcão e Luís Fernandes, o coordenador do festival, em palco. Os dois entraram muito sérios e bem caracterizados de fato preto e t-shirts com cores vistosas (amarelo e verde) a combinar impecavelmente com as sapatilhas. A primeira surpresa desta actuação foi o Hino da Alegria tocado num instrumento desconhecido da maior parte do público: o stylophone. É como se fosse um telemóvel ou um tablet touchpad mas a sensibilidade ao toque do ecrã não serve para ligar a alguém ou escrever algo mas sim para produzir notas musicais. Com um pequeno pormenor (ou pormaior): o som produzido tem distorção e faz rir. E muito. O stylophone foi usado mais vezes ao longo do espectáculo para tocar a “Abelha Maia” ou “Besame mucho” numa das cenas mais divertidas da noite com Ricardo Falcão a dançar com uma escova de lavar o chão beijando-a intensamente.
Antes, houve tempo para ouvir as respostas de uma criança à pergunta o que queres ser quando fores grande? serem transformadas em desejos. Desde a voz de piloto de avião à voz dos carinhos de choque passando pela do GPS, das informações de trânsito, do Multibanco, da estação de comboios ou do hipervisor de supermercados, tudo respostas que a criança deu, foram imitadas pelos dois actores com enorme mestria soltando grandes gargalhadas no público que reconhecia naquelas vozes situações muito familiares. Outra das cenas mais divertidas deu-se quando de uma versão alterada do “Jardim da Celeste” passou-se para uma música que poderia passar numa qualquer danceteria. Com um bom beatbox gravado no momento, luzes adequadas e danças a rigor no meio do público foi fácil animar os presentes. Que mais tarde cantaram também em conjunto divididos em dois grupos porém: os que cantavam com eu e com.. migo segundo o Luís. Mas o melhor estava reservado para o final. Depois de terem gravado uma melodia bonita que serviu de base, começaram a cantar em cânone José Cid e Carlos Paião. Se já estas duas músicas resultavam bem com a melodia acabada de gravar, a terceira assentou que nem uma luva. O que vale a pena realçar é que poucos artistas conseguem fazer uma versão melhor que o original. Aconteceu por exemplo com a versão do Jeff Buckley de “Hallelujah” (original Leonard Cohen). Ou com a versão de Maria João e Mário Laginha de “Corazón Partío” (de Alejandro Sanz). E aconteceu ontem à noite com a versão dos Mal-empregados do “Papel Principal” de Adelaide Ferreira. Sim, acabaram com Adelaide Ferreira. E não foi só cómico, foi também bonito. Tal como quando deixaram a última canção em loop e dançaram um com a escova e outro com o balde de lavar o chão até juntarem a escova e o balde que dizia "Mal-empregados". Não sei a que se referiam, mas certamente os euros do bilhete não o foram.
Para acabar o Festival e dentro do programa do Outonalidades, um circuito de música ao vivo por bares de todo o país (e Galiza), os Quempallou animaram a sala. Com um conjunto de instrumentos que incluía o acordeão, gaita de foles, tamboril, pandeireta, bombo, requinta, este grupo galego fazia lembrar os sons do seu vizinho Minho. Para quem vinha extinguir o FOGO (só o deste ano), chegaram cheios de energia.