Este conjunto de dois espectáculos traduz, por diversas linguagens, as vivências de um povo com tanto de real como de imaginário e que, subindo do mar ou descendo da serra, enraizou as margens do Rio Águeda. Centraliza como inspiração dominante, entre outras tantas tradições, a ancestral azáfama do Cais das Laranjeiras e a animação festiva do Largo da Sra da Boa Morte, retratadas respectivamente nas duas noites consecutivas da apresentação de Rio Povo: a primeira parte representa um dia de trabalho (sexta 13 Julho) e a segunda parte representa um dia de festa (sábado 14 Julho), ambas as facetas na sua mais íntima relação com o leito estival do Rio Águeda.
Há cerca de seis anos que o presente projecto matura entre os seus responsáveis artísticos. Um primeiro guião foi concebido para uma abortada tentativa de realização por falta de meios, tendo em conta a dinâmica logística e financeira de uma operação artística tão ousada. Dessa altura, contudo, remanesceu a maqueta construída e o envolvimento de grande parte do contingente de grupos e associações que estarão na concretização deste projecto em Julho de 2007.
Em finais de 2006, com a alvorada de um suporte ao projecto por parte da Câmara Municipal de Águeda e d'Orfeu Associação Cultural, o núcleo de responsáveis artísticos foi motivado a actualizar o guião de Rio Povo e a encetar a necessária mobilização, processos que se vêm adensando com um propósito que, desta vez, tem local e data marcada: Rio Águeda, 13 e 14 de Julho de 2007.
A montagem do duplo espectáculo "Rio Povo" ocupará o leito do Rio Águeda, de uma à outra margem, com a instalação de múltiplas estruturas em madeira (ver maqueta), pelas quais se distribuirão os elencos e as cenas de Rio Povo, com orquestra, coros, uma banda filarmónica, tocatas, músicos, actores, dançarinos e bailarinos, outros performers e ainda toda uma série de recursos visuais e multimédia (vídeo-projecção sobre volumes, pintura em tempo real e pirotecnia), numa produção de grande impacto. Este projecto representa um desafio aos criadores de cada uma das artes e técnicas envolvidas.
Além de um dique a jusante e dois cais em plena cena, a margem esquerda completa o não convencional auditório no rio, com a reutilização das intactas bancadas da antiga piscina fluvial, cuja lotação será reforçada com a instalação de uma bancada anterior amovível, num total de cerca de 1000 lugares sentados para público.
A reboque do formato inédito do projecto Rio Povo, é declaradamente um objectivo a aplicação dos conceitos emergentes das artes do espectáculo ao serviço da cultura tradicional e a contínua inovação artística a partir das matrizes tradicionais. Isto reflectir-se-á ao nível da cenografia, por exemplo, com a recuperação de engenhos antigos e a exploração de materiais da tradição num contexto contemporâneo. O mesmo sucederá ao nível musical, com o arrojo de muitos novos arranjos do repertório tradicional local ou com a aparição de ensembles de formação inusitada para a sua interpretação. Ou como o teatro e a dança estarão libertos de amarras e encaminharão a narrativa "Rio Povo" a um discurso transversal e actualizado.
O processo de concepção de "Rio Povo" é influenciado em toda a medida pelo contínuo desenvolvimento do guião original, dramaturgia e linhas narrativas, que suportarão o carácter inter-disciplinar do duplo espectáculo. Com base na evolução da maqueta e da concepção plástica (cenografia e figurinos) se joga também muito do discurso artístico do projecto Rio Povo. Ambos os tratamentos estão a ser desenvolvidos paralela e solidariamente pelo colégio técnico e artístico de responsáveis.
O envolvimento de todos os elencos participantes iniciou-se já, com a apresentação do guião e do conceito artístico de "Rio Povo", em encontros sucessivos junto de cada uma das associações. Durante os meses vindouros até Julho, a metodologia de trabalho sustenta-se nas multiplicidade de oficinas a realizar com os elementos dos grupos participantes, qualificando-os nas diferentes disciplinas artísticas, em workshops específicos orientados pelos responsáveis especialistas e/ou por convidados.
Participa no Rio Povo um imenso leque de associações/grupos do concelho de Águeda, para além da equipa coordenadora constituída por elementos de algumas das associações participantes: Com.Cenas Associação Cultural, d'Orfeu Associação Cultural, Ginásio Clube de Águeda , Grupo Folclórico da Região do Vouga , Grupo Folclórico e Etnográfico de Macinhata do Vouga , Grupo Folclórico e Etnográfico de Recardães , Grupo Típico O Cancioneiro de Águeda, Orfeão de Águeda, Orquestra Típica de Águeda, Os Serranos Associação Etnográfica e Sociedade Musical Alvarense , aos quais se juntam ainda contributos, ao nível estrutural, do Agrupamento de Escuteiros de Águeda, Núcleo Desportivo de Bolfiar, Sport Algés e Águeda e Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Águeda. Assim, "Rio Povo" concretizará uma multi-parceria de contornos inéditos, com uma finalidade comum de absoluta pertinência para o contexto associativo local, ávido que está de envolvimento na inovação de propostas artísticas.
Em Rio Povo, Águeda redescobre-se como um povo entre o imaginário e real, cujo rio é um filho da Serra e do Mar. Este povo é símbolo de todos os povos que têm um rio como fonte e suporte de vida. A iniciativa é artística, contudo resultarão dela efeitos socioculturais que a cidade agradecerá: uma sensibilização e a revitallzação da importância do rio, dos recursos que ele emana e da sua vivência pelos cidadãos (começando pelo público cultural, mas por aí não se ficando); a recuperação da antiga piscina fluvial como espaço de memórias de várias gerações, transformando-a em local cultural para o presente e o futuro, estimulando a produção de eventos em locais abandonados e com história local; a devolução do rio à cidade, algo que as inúmeras iniciativas sociais ou políticas não têm almejado e que acreditamos poder ser a Cultura uma alavanca eficaz.
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