enCantautores ou Porque nos amam assim?!

Foi com o encanto de Zeca Afonso que se iniciou o fim de uma grande temporada. Num concerto memorável onde também se ouviram músicas de Sérgio Godinho e Fausto, que pôs em êxtase qualquer espectador por mais distraído, o elenco dos Cantautores encheu a alma ao público com momentos de singular beleza. Não obstante estes momentos, foi num clima intensamente alegre e festivo que se passou uma noite de sonho. Uma noite em que a utopia se torna (quase) real e o stress citadino, os problemas quotidianos e a rotina do dia-a-dia se esquecem. Como disse o Pe. João Paulo, não se deve dar apenas de comer às pessoas, é preciso cultura.
É preciso cultura e é preciso mostrar aos mais jovens a música de intervenção para que se acordem consciências mais adormecidas ou perdidas.
É bom ver as crianças a aprenderem as "Sete Mulheres do Minho". É bom mostrar a qualidade da música portuguesa e é bom descentralizar a cultura. Após passar por mais de 40 locais, o encerramento da temporada no auditório do Centro Comunitário de Recardãe (onde já decorreram outras iniciativas da d'Orfeu nomeadamente o Gesto Orelhudo) afirma cada vez mais aquele espaço e Águeda como pólo dinamizador da cultura.
Bem-haja à d'Orfeu por estas e muitas outras iniciativas. No meio de tantas adversidades, continua-se a lutar por trazer a Águeda espectáculos de excelente qualidade muitas vezes impensáveis de início. "Enquanto há força [...] Seremos muitos, seremos alguém" como diz o saudoso Zeca Afonso (que mereceu uma salva de palmas durante o espectáculo). Esse alguém passa também pelo público (de Águeda e de fora) que já se rendeu à indubitável qualidade dos espectáculos da d'Orfeu e que mantém possível a concretização de muitos sonhos.
Fica-se à espera de uma nova temporada com a ânsia natural de quem espera por um momento de paz de espírito e felicidade. Porque nos amam assim?!


Fausto Ferreira